13 de outubro de 2024

“MATAR PADRE DÁ AZAR PARA O PADRE…” – AUTO DA COMPADECIDA

FICHA TÉCNICA:

Titulo: Auto da Compadecida
Autor: Ariano Suassuna
Gênero: Fantasia / Ficção / Teatro / Cordel
Editora: Nova Fronteira
Publicação: Original 1955
Número de Páginas: 232 páginas

“Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher”
João Grilo – Auto da compadecida

RESENHA (SEM SPOILERS):

PERSONAGENS:

Por se tratar de uma peça visando a sátira social,
os personagens não representam um indivíduo,
e sim tipos comuns de uma típica cidade do interior do nordeste,
e os estereótipos que rodeiam suas personalidades.

Palhaço: Por ter sido criada para exibição nas ruas,
o palhaço é um narrador, que volta e meia interage com o público narrando a trama.

João Grilo: O protagonista, homem franzino, simples e inteligente,
que garante a sobrevivência usado de astúcia.
De pensamento rápido, sempre consegue as soluções mais mirabolantes
para os problemas que aparecem.
é um personagem do folclore nordestino e português.

Chicó: Melhor amigo de João Grilo, é um mentiroso nato.
Contador de causos onde o exagero é visível.
Ao contrário de João Grilo, não é muito inteligente.

Padre João: Padre da cidade, preocupado apenas em levantar dinheiro.

Sacristão: Homem religioso, desconfiado e conservador.

Bispo: Tão avarento quanto o padre,
o Bispo, o padre e o sacristão são os elementos de crítica da igreja corrompida.

Major Antônio Moraes: Típico senhor de terras, ignorante, violento e poderoso,
impõe o medo na população.

Padeiro: Comerciante explorador e avarento,
quer apenas acumular dinheiro explorando os empregados
e fazendo acordos com as autoridades e com a igreja.
Acumula também o estereótipo do corno da cidade.

Mulher do padeiro: Esposa infiel, ama somente seus mascotes

Frade: Bom religioso, representa o lado bom da igreja,
que não se corrompe e não se deixa contaminar pela avareza.

Severino do Aracajú: Cangaceiro temido pela extrema violência.

Cangaceiro ou Cabra: Capanga de Severino, e executor.

Demônio: Ajudante do Diabo (encourado).
Está mais para um lambe botas, que é desprezado pelo seu chefe.

O Encourado (o Diabo): Segundo uma crença nordestina,
o diabo usa roupas de couro, como um boiadeiro (daí o nome).
É o opositor de joão Grilo, e também é muito astuto.

Manuel (Nosso Senhor Jesus Cristo): Simboliza o bem, mas um bem sem misericórdia.
É representado por um ator negro para causar espanto e estranhamento
na platéia acostumada ao viés tradicionalista.

A Compadecida (Nossa Senhora): A portadora da misericórdia,
seus argumentos estragam os planos do Diabo de levar todos ao inferno.

A peça narra o cotidiano de uma cidade do interior do nordeste e de seus habitantes,
mais especificamente dos amigos João Grilo e Chicó,
que passam por diversas situações onde
a inteligência da solução do problema causa situações cômicas.
As principais situações retratadas são:

O enterro do cachorro, onde um cachorro teria deixado uma herança,
desde que fosse enterrado em latim.
Esta história pode ser encontrada em várias obras anteriores,
principalmente em literatura de cordel,
mais especificamente no cordel “O Dinheiro de Leandro Gomes de Barros.

O gato que “descome” dinheiro,
onde um gato se torna uma verdadeira “galinha dos ovos de ouro”,
que também pode ser encontrado na obra
“História do Cavalo que defecava dinheiro” de Leandro Gomes de Barros

A gaita que ressuscita os mortos ,
também do cordel “História do Cavalo que defecava dinheiro”

A peça foi adaptada em 1969 no filme A Compadecida,
e em 1987 foi feita outra adaptação no filme “Os Trapalhões no Auto da Compadecida”
Em 1999, foi apresentada como uma minissérie pela Rede Globo de Televisão.
Nela aparecem alguns personagens, como o Cabo Setenta, Rosinha e Vicentão,
que não fazem parte da peça original, mas de “Torturas de um Coração”,
além de elementos de “O Santo e a Porca”, ambas do autor
Segundo o professor Carlos Newton Júnior é impossível
determinar o número de encenações do Auto da Compadecida no Brasil
e em outros países, ao longo desses 65 anos.
A peça foi traduzida em diversos idiomas e encenada nos quatro cantos do mundo.

Resenha escrita ao som de João Campelo – Presepada (Tema de João Grilo)

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